Paganismo e críticas políticas tematizam “Bruxaria”, clipe de Nancy Hallow


Em bate papo com o JornaLeo, a artista conta detalhes dos bastidores com exclusividade!


O timing de Nancy Hallow foi certeiro. Lembra dela? Nós a entrevistamos há alguns meses (veja aqui). Adentramos outubro e a drag aproveitou o clima de Halloween para lançar o clipe de seu mais novo single, “Bruxaria”, o terceiro do EP "Histeria". O marketing de lançamento só seria melhor se fosse uma sexta-feira 13.

Em seu novo trabalho, dirigido por André Gagliardo e produzido em parceria com o site Pop'Up Drag, a artista bota pra jogo todo o seu instinto bruxesco – e de forma intrinsecamente subjetiva. Nancy, ou melhor, Felipe Lucena, pratica bruxaria há alguns anos. “A música é uma introdução sobre quem eu sou, tanto como pessoa quanto como personagem drag. Ela fala dessa essência [bruxaria] que preservo e tem ligação com muitas coisas que me cercam, como o desejo de ser livre,  lutar contra a opressão e bater de frente com tudo aquilo que contraria os meus valores “, expõe.

Contudo, “Bruxaria” reflete um período turbulento na vida da cantora. “Eu a compus depois que sai de uma tradição da wicca, com a qual eu tive muitos problemas”, explica. Embora Nancy descreva tal experiência negativamente, ela conta que soube catalisá-la de forma empoderadora. “Não era ideia minha escrever a música, mas ela surgiu inconscientemente a partir das minhas lembranças vividas nessa tradição. Toda aquela experiência me deixou nervosa em relação a assuntos diversos , pois eu vivia em uma época onde eu não tinha liberdade. Apesar de boa parte das tradições da wicca não serem prejudiciais, essa que eu vivi fez uma lavagem cerebral em mim e não me permitia ser 100% real, verdadeira comigo mesma. Eu estava moldada e transformada em uma pessoa absolutamente contrária ao que eu sou”.




Protesto político

Além de referências pagãs, o clipe também traz uma faceta politizada, a qual Nancy faz questão de destacar.  As críticas são dirigidas ao presidenciável Jair Bolsonaro e ao atual presidente Michel Temer. “A cena, pra mim, é simbólica. Mesmo que a #Elenão [campanha contra Bolsonaro] não seja mais conhecida daqui a 10 ou 20 anos, a parte onde eu canto “Que se foda Bolsonazi, fora Temer!” será uma lembrança desse tempo sombrio. A primeira vez em que assisti a cena, eu me arrepiei. E as pessoas que também viram o clipe, acharam interessante e muito válido eu me posicionar, porque a gente (sic) vivendo em uma época muito bizarra aqui no Brasil, principalmente por conta da política, como o “inominável” [Bolsonaro] que quer tirar direitos sociais que demoramos décadas para conquistar. Não só dos LGBT’s, mas dos negros, das mulheres etc.”, manifesta.

Atmosfera mística

Não bastou figurinos, objetos, encenações (e até uma cobra! :o) que remetessem a bruxaria. De acordo com Nancy, a produção do clipe ainda contou com uma benção sobrenatural de Hecate, deusa da mitologia grega. “No vídeo, eu referencio Hecate, a quem cultuo. Minha tia, que também pratica bruxaria, é quem a interpreta. Conforme fui crescendo, tive essa deusa como uma madrinha nos meus trabalhos mágicos”, explica.

A suposta presença de Hecate foi algo forte para Nancy. “No clipe, minha tia, caracterizada, age de uma forma como se realmente estivesse me guiando em todo o meu processo mágico, ceifando as amarras que me prendem e me impedem de crescer. Por isso, ela aparece com a foice, que é um dos principais símbolos de Hecate, deusa ceifeira e dos caminhos. Houve momentos em que a gente realmente sentiu a presença de Hecate. Eu e minha tia fomos capazes de senti-la, nos auxiliando, estando conosco em toda a produção do clipe. Eu acredito que o clipe ficou especial porque tivemos total esse apoio divino”.



Veja fotos dos bastidores do clipe, liberadas com exclusividade para o JornaLeo! Deslize para o lado e confira! 


Bastidores de "Bruxaria", clipe de Nancy Hallow



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