Jenni Mosello: livre de amarras e dona de si


Artista promissora do X-Factor Brasil se entrega de corpo e alma em álbum confessional


Talento e autonomia se sincronizam no DNA artístico de Jenni Mosello. Em uma loja de discos, ela poderia perfeitamente estar na prateleira de artistas não convencionais, que pensam fora da caixa. A jovem de 24 anos, natural de Curitiba e de dupla cidadania (brasileira e italiana), se projetou nacionalmente ao participar do X-Factor Brasil, versão tupiniquim do reality musical que foi transmitido pela Band em 2016. Na competição, foi amada e abraçada por todos os jurados – especialmente a cantora Alinne Rosa, sua mentora. Apesar do enorme favoritismo por parte do público, a cantora saiu como vice-campeã. Com uma trajetória camaleônica, Jenni nos brindou com peripécias musicais. Entre as apresentações, estreou deliciosamente com o jazz de Nina Simone (“Feeling Good”), adaptou a sua maneira o funk de Valesca Popozuda (“Beijinho no Ombro”) e encantou com o som orgânico de “A Banda Mais Bonita da Cidade” (“Oração”).

Passados dois anos de X-Factor Brasil, você pode pensar: essa Jenni deve ter sido mais uma dessas cantoras de reality que experimentaram a brevidade do sucesso e que no fim das contas “flopou”. Ou então, mais uma cobaia que comprova a ineficiência das versões nacionais dos realities musicais que repercutem mundo afora.

Na verdade, não. Jenni Mosello não só subverte essa lógica, como dá indícios de que é uma aposta para o pop nacional. Em 2017, o Google Play, por meio da Billboard Brasil, trouxe o nome da ítalo-brasileira como uma das principais revelações na música. Quando ainda era finalista da atração da Band, Jenni deu o pontapé na carreira com o lançamento do primeiro single oficial, em inglês: “Run to the Hills”. Conseguiu chamar a atenção de nomes como Tiago Iorc e da banda Supercombo, sendo convidada por estes para participação especial em shows.

Em abril de 2017, quebrou um jejum em sua carreira: lançou a primeira canção autoral em português, “Disk Me Quer”, que tem um clipe influenciado por editoriais de moda e um visual alternativo. No mesmo ano, começou a esboçar aquilo que viria a ser o seu maior xodó: o álbum “JENNI”.


Essência espelhada

Lançado na virada de julho para agosto, o disco de sons experimentais é uma proposta de reinvenção para o pop nacional. O projeto foi gravado e mixado no Nico’s Studio, na capital paranaense. Em entrevista – superdescontraída e franca - ao JORNALEO, Jenni enfatizou que todas as canções do disco são autobiográficas. É como se a própria se visse diante do espelho. “Esse álbum foi muito orgânico. Tudo o que vivi até hoje, de certa forma, me influenciou, porque o vejo como minha nova data de nascimento. Pela primeira vez, eu me deixo existir pelas minhas próprias palavras, me aproprio da minha vida e canto pro mundo todo quem sou, por onde estive e pra onde vou!”, contextualiza.

Basta uma audição atenta do “JENNI” para ligar os pontos. Das sete faixas, há dois interlúdios – nos quais o jazz é carro-chefe. Em um deles, foram inseridos samples de “Felling Good”, de Nina Simone. O estilo musical em questão é que içou Jenni aos palcos. Aliás, a maior referência vocal da jovem é Ella Fitzgerald, cantora norte-americana que entrou para a história como a “primeira-dama do jazz”. “Me inspirei muito nas grandes cantoras, queria mostrar voz. Eu gosto de brincar que não trabalho com expectativas, mas com objetivos. Estou aqui, ralando muitíssimo para alcançar aquele famoso Grammy. Esse álbum faz parte dessa caminhada”, revela.


Jenni Mosello imprimindo um pouco de sua personalidade na capa do "discão" (Divulgação)

Além de mostrar suas origens como artista , Jenni se posiciona como mulher empoderada. Em “Vou Gritar”, a cantora é tomada pelo desejo do protagonismo. Ligando o “foda-se” para os padrões impostos pela sociedade, Jenni assume o comando e decide navegar de acordo com as suas próprias coordenadas. O single tem um clipe cuja marca principal é atitude. Em oito meses no Youtube, o vídeo contabiliza mais de 740 mil visualizações. As faixas “Quem é Você” e “Vai ser Assim”, esta última cantada em parceria com a curitibana Olivia, também refletem os sentimentos de independência e orgulho.


Também é destaque no novo projeto o single “Eu Não Vou”, que tem participação de outro artista curitibano, Chameleo. O lyric-video da canção traz filmagens de fãs a cantando. Pouco antes do lançamento do álbum, a faixa ganhou um clipe - dirigido por Fernando Hideki. Gravado em Roma, na Itália, o vídeo remonta ao passado de Jenni, que passou boa parte da infância nessa cidade. Nele, há cenas de clima nostálgico em que a cantora aparece com a família, especialmente os octogenários nonnos. Por ora, Jenni ainda faz um passeio pela capital italiana.


Divisor de águas

Em relação à vivência no X-Factor, Jenni relembra orgulhosa. “Me agregou em
tudo na minha vida: me trouxe vocês, me deu mais confiança, abriu minha cabeça pra muita coisa e foi um dos pontapés pra eu me permitir fazer pop. Como a minha escola de formação vem do jazz e do blues, o pop sempre foi “mal visto” por ser, às vezes, fácil demais. Mas o X-Factor foi o lugar em que pude provar que eu posso cantar pop e ter muita voz sim!”, conta.

Conforme expresso, a artista deixa bem claro que não tem medo de se reinventar e avalia a mudança positivamente. “Christina Aguilera, Beyoncé, Lady Gaga...  Todas com vozeirão fazendo pop. Decidi então que essa é minha gangue . Acho até que virou uma tendência do mercado. Hoje, por exemplo, temos a IZA, que também está seguindo esse caminho”. Portanto, Mosello acredita que sua conversão ao estilo pop se justifica mais por essência do que por sobrevivência. Ou seja, amor próprio no que faz e desenvolve.

Haja vista a visibilidade que o reality lhe proporcionou, a queridinha do X-Factor BR modera o tom ao falar de reconhecimento, como uma possível aquisição de contrato com gravadora de maior cacife. “Quando se trata de mercado, o buraco é beeem (sic) mais embaixo. Existe um mundo de negócios que não chega ao público. Pra ser sincera, uma das maiores decepções da minha vida foi entender como realmente a música funciona no Brasil atualmente. Mas peguei essa frustração e escrevi músicas! Um dia, vou ter que entrar na roda. Mas eu entro quando ela puder girar do meu jeito. Até lá, prefiro trabalhar com minhas próprias pernas. Eu sou artista. Trabalho com o coração, mas também sei usar minha cabeça”, finaliza. Atualmente, o álbum de Jenni é distribuído digitalmente pela ONErpm , plataforma que possibilita o acesso de artistas a serviços de streaming, como Spotify, Deezer, e Apple Music


Joguinho Jenni Mosello









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