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É simplório demais resumir a Copa do Mundo em realização de vários jogos de futebol. Choros, risos, vibrações, dedicação, frustrações, vitórias, derrotas ... São diversos e mistos os elementos que fazem o esporte “hipnotizar” nações inteiras. A gente vai sentir saudade da Copa na Rússia sim. Ou melhor, das coisas boas que ela nos proporcionou. O restante? A gente só guarda como uma lembrança desgostosa e que é pra não fazer de novo.
Faz uma semana que a França
conquistou o seu bicampeonato no Mundial e o gostinho de “quero mais” ainda permanece
entre os amantes da redonda (que não são poucos). Em 2022, o destino é o
Catar – o primeiro país do Oriente Médio a sediar o evento. Mas até lá, vamos
relembrar um pouco do que rolou na Copa da Rússia?
“Big
Brother” em campo
A Copa da Rússia não entrará
para a história como uma qualquer – dadas as suas particularidades e
peculiaridades. De cara, o torneio internacional apresentou a novidade mais polêmica
do universo futebolístico: o VAR (árbitro de vídeo). O recurso tecnológico,
aplaudido por uns e criticado por outros, mudou o rumo de vários jogos. Houve
beneficiados e prejudicados. Por meio dele, os juízes revisaram lances vistos
como duvidosos e passíveis de verificação. O sistema de videoarbitragem é,
portanto, uma espécie de “checagem de fatos do futebol”. A Copa pode até
acabar, mas esse árbitro de vídeo ainda rendará pano pra manga caso venha
marcar presença em outras competições.
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VAR: legado polêmico da Copa da Rússia |
Virgem?
Era uma vez...
Além do VAR, a Copa em
terras russas também teve outra estreia. A seleção do Panamá, pela primeira vez
, pode mostrar ao mundo que sua ginga vai além do calipso, do reggaeton e de outros
ritmos afro-caribenhos. Embora tenha sido a lanterninha do grupo G, perdendo
todas as partidas que disputou, o time panamenho não deixou de aproveitar a sua
primeira participação em uma Copa. No jogo da última rodada contra a Tunísia,
depois da derrota por 2 a 1, os panamenhos deram uma lição de espírito
esportivo ao se despedirem do Mundial, demonstrando gratidão pela oportunidade.
Em campo, os jogadores da equipe com a pior campanha entre as 32 participantes
ajoelharam e rezaram.
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Seleção do Panamá: mitou no espírito esportivo! ;) (Reprodução: EFE/EPA/ Ritchie B. Tongo) |
Flop alemão
De nº 1 no ranking da FIFA a
maior decepção nesta Copa. Os algozes campeões de 2014 que depenaram a seleção
Canarinho em seu ninho, dessa vez, sentiram o peso do ditado “o mundo dá voltas”.
Nas vésperas do Mundial, até então, a seleção alemã era tida como uma das
favoritas na conquista da taça. Surpreendentemente, tal favoritismo não se
confirmou. A seleção comandada por Joachim Low, que tinha Tony Kroos, Khedira e
Manuel Neuer, passou sufoco em jogos contra México, Suécia e Coreia do Sul. Em
que a Alemanha falhou? Tecnicamente ou emocionalmente? Que comecem os debates.
Apenas sei que, bem como o Muro de Berlim, a Alemanha ruiu.
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Chora na cama, que é lugar quente! #RÁ (Reprodução: REUTERS/ Michael Dalder/ Folhapress) |
Copa
das “zebras”
Se vimos favoritas, como a
Argentina de Messi e Portugal de CR7, irem embora antes da hora, também vimos
times – até então pouco apostados – derrubarem o bolão de muita gente e
avançarem longe nessa Copa. É o caso da Bélgica, que apresentou ao mundo a sua
atual e aclamada geração de talentos, como Lukaku, De Bruyne e Hazard. Esses
belgas, donos de um sistema de ataque muito elogiado, fizeram o Brasil de Tite
arrumarem as malas mais cedo em plena quartas de final.
O fato de serem os donos da
festa não fez com que os russos relaxassem nesse Mundial. Logo na estreia,
sapecou 5 a 0 em cima da Arábia Saudita. Em seguida, garantiu a classificação
para as oitavas ao vencer o Egito. Nos pênaltis, bateu a Espanha de Piqué e
Iniesta e foi para as quartas, onde foi batida pela Croácia nas penalidades. A
campanha surpreendente chama atenção pela mudança brusca de expectativa sobre a
seleção russa. Se ela começou a Copa desacreditada pelos próprios torcedores, que
chegaram a cogitar a última posição no ranking da FIFA, o cenário foi sendo
modificado por meio dos resultados e da atuação do time.
Outra que surpreendeu foi a
finalista Croácia, a seleção de Módric – o craque da Copa, segundo a Fifa. Os
croatas chegaram a final do campeonato após disputar três prorrogações. Ou
seja, mostrou que tem combatividade (ao contrário dos japoneses) e muito gás
para jogar até o último segundo de jogo, se necessário. Durante a decisão,
contra a França, mesmo perdendo de 4 x 2, eles reagiram até onde puderam.
Palmas para essa galera !
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Os caras do time com uniforme quadriculado, vulgo Croácia, bateram um bolão (Reprodução: Twitter/HNS_CFF) |
Roubaram
a cena!
Nessa era de tecnologia em
rede, móvel e veloz, é claro que um evento como a Copa do Mundo faria pipocar
memes e virais. Se o Brasil não venceu no futebol, pelo menos mandou bem nesse
quesito. A começar pelo “psicopata”, “maluco” ou “feiticeiro do hexa”, o
torcedor russo de olhar penetrante por trás da bandeira do Brasil flagrado
durante o jogo da vitória da seleção brasileira sobre o México. Em poucas
horas, a curiosidade de milhares de brasileiros por tal figura repercutiu na
imprensa. Logo, veio à tona a identidade de Yury Torsky - o russo de 34 anos,
morador de Samara e funcionário no Centro Espacial da cidade, de onde os
foguetes russos são lançados.
Aliás, rolou até encontro do
feiticeiro do hexa com outra figura emblemática dessa Copa: o Canarinho
Pistola, o mascote adotado pela torcida brasuca. Quem também roubou a cena foi
a presidente da Croácia, Kolinda Grabar-Kitravic, que além de esbanjar carisma
, mostrou que mulher pode sim ser fanática por futebol. A croata caiu em
lágrimas ao entregar as medalhas de segundo lugar para os jogadores da seleção
de seu país.
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O obscuro "Feiticeiro do Hexa" e o invocado Canarinho Pistola: amuletos brasucas dessa Copa (Divulgação: CBF) |
Se tivéssemos um álbum de
memes dessa Copa, uma figurinha que “cairia” bem e fácil é o Neymar. A fama de “cai-cai”
do craque do Brasil dominou as redes sociais. Foi criado até um desafio: o “Neymar
Challenge”, no qual pessoas simulavam quedas exageradas – algo parecido com que
o jogador supostamente fazia em campo. A criatividade nas montagens de gifs,
imagens e vídeos com o camisa 10 foi a mil.
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Não há limites para a zoeira: criaram um alfabeto só com as quedas do Neymar! HAHAHAHA (Reprodução: Facebook) |
Feridas
expostas
Talvez a parte mais chata da
Copa, para nós brasileiros, não tenha sido a eliminação da nossa seleção. Mas
sim o vexame machista que um grupo de brasileiros deu aos olhos do mundo. Eles
atravessaram mais de 14 mil km até a Rússia para mostrarem o que tem de pior e
escroto. Em um vídeo que circulou nas redes sociais, homens com a camisa da
seleção brasileira cercam uma estrangeira e a fazem repetir palavras de baixo
calão em português. A vítima parecia não estar consciente de que era ofendida e
reduzida a um órgão sexual feminino. Felizmente, a conduta foi reprovada pela
maioria dos brasileiros – que em nada se sentiram representados naquele ato. O
caso repercutiu de tal maneira que os próprios russos fizeram um
abaixo-assinado pedindo a punição dos brasileiros. Depois desse episódio,
vergonhosamente surgiram mais vídeos em que homens brasileiros constrangem mulheres
russas nesse Mundial.
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Acreditem: nessa imagem, temos identificados um advogado, um tenente da Polícia Militar, um engenheiro civil e um ex-secretário municipal de Turismo (Reprodução: Facebook) |
A Copa do Mundo também
apresentou casos de assédio contra profissionais mulheres, especialmente da
imprensa. A repórter da CBF TV, Laura Zago, por exemplo, relatou que por três
vezes vivenciou esse tipo de situação - detalhe: só na Rússia. Bola fora e
cartão vermelho para os agressores envolvidos nesses episódios!
Estandartes
para além do esporte
Enquanto alguns curtiam a
Copa pelo futebol, outros a aproveitaram como palanque político. A começar
pelos próprios anfitriões da festa, os russos. Ativistas LGBT’s que protestaram
em prol da causa foram detidos pela polícia. O principal clamor era contra a
perseguição e tortura de gays na Chechênia. A justificativa do governo de Putin
para as repressões é de que os manifestantes promovem a “propaganda gay”, além
de infringirem uma lei local que proíbe manifestações desse tipo. Na Rússia, tal
“crime” pode render desde multas até um ano de prisão. No caso de estrangeiros,
fala-se até de deportação. No período da Copa, o governo russo advertiu turistas
por meio de um documento sobre manifestações homoafetivas em ambientes
públicos.
O jogo entre Suíça e Sérvia
na fase de grupos da competição teve tensão política. Após os dois gols que marcaram
a virada sobre o time sérvio, os meio-campistas Xherdan Shaqiri e Granit Xhaka
fizeram com as mãos o símbolo da águia negra de duas cabeças, presente na bandeira
da Albânia. Os sérvios viram as comemorações como provocação.
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A disputa entre Suíça e Sérvia era bem mais do que futebol. Questões políticas também estavam em jogo (Crédito: InfoEsporte) |
Ambos os autores dos gols
suíços são de origem kosovar, cuja maioria do povo tem raízes albanesas, e se
naturalizaram na Suíça. O Kosovo está localizado dentro da Sérvia e em 2008,
declarou independência. Contudo, a Sérvia ainda considera o Kosovo como parte
do país. Ou seja, não reconhecem a independência. Antes mesmo da partida, o atacante
servo Mitrovic alfinetou o nacionalismo de Shaqiri: “Se ele é tão nacionalista,
deveria jogar pela seleção do Kosovo”, expressou.
Já no duelo decisivo
de França e Croácia, no estádio Lujniki, integrantes da banda punk feminista “Pussy
Riot” invadiram o campo em protesto contra a falta de liberdade de expressão na
Rússia de Vladimir Putin. Entre as reivindicações, estava a libertação de
presos políticos. O jogo foi paralisado brevemente até que seguranças da FIFA
retirassem os manifestantes (dois homens e duas mulheres) – que foram vaiados
pelos torcedores.
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Vestidos de policiais, manifestantes do "Pussy Riot" queriam denunciar os mandos e desmandos de Putin na Rússia (Crédito: Martin Meissner/AP) |
A equipe croata também polemizou. Às vésperas da partida contra a Inglaterra pela semifinal, em um vídeo publicado em uma rede social, o zagueiro Vida, ao lado de um membro da comissão técnica, aparece fazendo uma saudação típica de milícias neofazistas da Ucrânia. O material causou burburinho, uma vez que a relação entre Rússia e Ucrânia não é das melhores. Ambos os países tem divergências históricas e fizeram parte da extinta União Soviética até 1991. A reação da FIFA ao episódio foi imediata: Vida foi condenado a pagar uma multa de 12 mil euros. Já o observador técnico foi demitido pela Federação Croata de Futebol, que pediu desculpas por meio de nota e alegando que a intenção do vídeo destoa do caráter político. Vale ressaltar que a FIFA proíbe qualquer tipo de manifestação política.
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Vídeo fez com que jogadores da Croácia fossem acusados de apologia ao fascismo (Reprodução: Youtube) |
Pois é. Um mês de Copa e quanta coisa aconteceu, hein? E aqui estão só os destaques. Será que esqueci de algum outro? Se sim, me conte nos comentários! Aproveite e diga do que você sente falta (ou não) desse Mundial ;)
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