Ouro Preto preserva tradição tricentenária da Semana Santa

Ouro Preto preserva tradição tricentenária da Semana Santa*


Crédito: Luiza Magalhães / Agência Minas

Ornamentação dos tapetes coloridos mobiliza toda a cidade 

As celebrações da Semana Santa em Minas Gerais são uma das marcas registradas da cultura religiosa no estado. Além das tradicionais manifestações, como missas, cânticos e cortejos, a ornamentação dos tapetes coloridos é uma tarefa que há mais três séculos é realizada em cidades históricas, como Ouro Preto, Mariana, Tiradentes, São João del-Rei, Diamantina, Congonhas e Sabará. O trabalho voluntário e coletivo revela o fervor de fé e de religiosidade do povo mineiro.

O período litúrgico traz à tona as particularidades de cada cidade no que se refere o modo de expressar as tradições religiosas. Uma das mais famosas tradições da Semana Santa acontece em Ouro Preto. Moradores e visitantes, das mais variadas localidades, se unem no trabalho de enfeite dos tapetes com flores, que vão desde a Matriz do Pilar à Matriz de Antônio Dias. A tarefa se torna ainda mais gratificante por mérito dos grupos de seresta, que harmonizam o trabalho por meio da música.

O hábito de enfeitar as ruas ouro-pretanas com tapetes de flores começou em 1733, com a inauguração da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar. A festividade, que ficou conhecida como Triunfo Eucarístico, era realizada em moldes de pompa, pois naquela época Ouro Preto vivenciava a opulência da extração de ouro. A procissão era puxada por sacerdotes e seguida pelos fiéis, que se encontravam caracterizados com trajes de gala. Encobertava-se as ruas com flores e folhagens. O casario tinham as janelas adornadas com seda e tecidos adamascados, além de adereços de ouro e prata. Com a escolha de Nossa Senhora do Pilar como Santa Padroeira da cidade em 1963, a tradição voltou para o calendário festivo local. Os tapetes multicoloridos enfeitam os lugares por onde passa o Santíssimo, símbolo da presença de Cristo na Eucaristia. 

Cada passagem é ornamentada pelos moradores e fiéis das paróquias com muita devoção e capricho. O ato de decorar o caminho para as procissões é uma herança dos portugueses, advinda dos tempos do Brasil Colônia. O trajeto feito pela multidão entre as igrejas de São Francisco de Assis e de Nossa Senhora do Rosário, no centro de Ouro Preto, é coberto por 3 km de tapetes floridos. 

A confecção dos tapetes, além das flores, envolve serragem colorida, borra de café, farinha, areia e outros materiais, como tampinhas de garrafa e botões. Juntos, esses elementos compõem a representação dos principais símbolos sacros da festa. A policromia dos tapetes evidencia a originalidade e a emoção expressada pelos mineiros em um dos períodos mais importantes da Igreja Católica. 


*Texto produzido em 2017 durante meu estágio de jornalismo na FIEMG para o site do Instituto Estrada Real. Para essa postagem, o conteúdo foi reescrito. 


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